
A professora e pesquisadora Tatiana Siciliano (PPGCOM/PUC-Rio) recebeu o autor e roteirista Emanuel Jacobina. Crédito: Brenda Gusmão
Autoria, processo criativo e humor na ficção televisiva foram temas da segunda edição do ResenhaCOM, evento mensal promovido pelo DCOM. No dia 18 de junho, a professora e pesquisadora Tatiana Siciliano (PPGCOM/PUC-Rio) recebeu o autor e roteirista Emanuel Jacobina para uma conversa sobre o atual cenário do melodrama brasileiro. Criador de “Malhação” e autor em “A Grande Família” e “Sai de Baixo”, Jacobina abordou a rotina nas salas de roteiro e a escala de produção industrial das telenovelas. A partir da provocação inicial feita por Tatiana, o ex-aluno de Jornalismo e mestre em Comunicação pela PUC-Rio comparou a autoria na teledramaturgia, no teatro, no cinema e na literatura. Comentou também a demanda do público por produções realistas que mimetizam o que é considerado familiar.
Na conversa, vocês discutiram sobre uma certa “moral consensuada” que seria o “limite” para se abordar certas temáticas. O melodrama ainda é um gênero influente na formação da sociedade brasileira?
Tatiana Siciliano: O melodrama é fundamental. “Beleza Fatal”, por exemplo, que fez muito sucesso no streaming, é melodrama puro. Tem toda a característica do exagero e de uma moral compactuada. Pouca coisa não se apoia no melodrama, ele acaba sendo a base do cinema, das séries, até do telejornalismo. Quando tem uma enchente, a construção da pauta segue uma lógica melodramática durante a cobertura. Mesmo no documentário, você tem questões melodramáticas. No dorama e na novela turca também. Ele está distribuído universalmente.
Emanuel Jacobina: Quando você pensa em ficção audiovisual, dificilmente foge do melodrama, porque o melodrama é uma linguagem que depende da provocação sentimental, de provocar sentimentos no público. Mesmo um autor que aparentemente nada teria a ver com melodrama, quando você assiste, por exemplo, “Gosto de Cereja”, de Abbas Kiarostami, a questão sentimental conduz a narrativa. A questão sentimental não está apartada da narrativa. E a origem disto está na linguagem melodramática.
Você comentou sobre a drástica diminuição dos produtos humorísticos na TV. Isso é um efeito da oferta de conteúdo de humor em outras plataformas?
Jacobina: Em parte, sim. Mas talvez tão importante quanto isto ou até mais, é o fato de que a gente está com dificuldade de consensuar uma moral da sociedade brasileira em relação aos temas que o humor trata. As piadas podem ser feitas de que forma e em relação a quê? A sociedade brasileira está vivendo uma crise, e quando digo crise não quero dizer uma coisa ruim, é apenas uma situação na qual você ainda não tem resposta para um problema.
Como o ResenhaCOM com o Jacobina contribui para a formação dos alunos?
Tatiana: Acho muito importante colocar um autor para refletir sobre o seu processo criativo e sobre os limites da criação. É importante ouvir como é este processo dentro de todas as transformações sociais que vivemos e entender as demandas e dispersões do público. Quem está na Universidade e quer entrar na profissão vai disputar espaço com quem já é veterano no audiovisual. Isto faz com que o aluno pense qual é o seu lugar e como vai se posicionar dentro desta lógica. Não adianta termos na Pós-Graduação uma pesquisa que não converse com a sociedade. A ideia é conseguir colocar e ouvir questões de quem está no mercado que possa ser direcionado à sociedade e nos ajudar a refletir sobre o que está acontecendo no mundo.