Marcelo Lins e Arthur Ituassu discutem o papel do jornalismo frente às mudanças políticas, ambientais e energéticas. Crédito: Malu Carvalho

Marcelo Lins e Arthur Ituassu discutem o papel do jornalismo frente às mudanças políticas, ambientais e energéticas. Crédito: Malu Carvalho

O papel do jornalismo diante das transições no mundo contemporâneo foi o ponto central da conversa que inaugurou o ResenhaCOM, novo evento do Departamento de Comunicação. Nesta primeira edição, no dia 29 de maio, o professor e pesquisador Arthur Ituassu (PPGCOM/PUC-Rio) recebeu o jornalista e comentarista da GloboNews Marcelo Lins para um bate-papo sobre política, tecnologia e meio ambiente no contexto internacional. 

O ResenhaCOM tem como proposta ser um diálogo entre professores e profissionais do mercado, com a intenção de articular teoria e prática com temas urgentes que atravessam o campo da Comunicação e a sociedade. A cada edição mensal, convidados com diferentes áreas e trajetórias estarão na PUC-Rio para refletir sobre temáticas da atualidade que passeiam por diversos setores. Na sala K102 lotada, a dinâmica não ficou só por conta dos debatedores, mas houve  também a participação de professores e alunos, com intervenções e perguntas.

– O teórico da comunicação James W. Carey, que eu gosto muito, trabalha a noção de comunicação a partir de palavras como comunidade, comum, comunhão. A ideia por trás da iniciativa é criar um lugar de encontro para reforçar a constituição da comunidade do Departamento. O objetivo é tratar os temas contemporâneos relevantes para a Comunicação – explicou Ituassu.

Democracia, transições e jornalismo

O esgotamento da democracia liberal representativa foi um dos principais eixos da conversa. Na abertura, Ituassu  relembrou as transformações políticas ocorridas no século XXI. Segundo o pesquisador, dados da ONG Latinobarómetro registram que 48% da população da América Latina apoiam a democracia como regime político. Esta informação inicial, que causou espanto na plateia, deu o tom do debate. 

Jornalista e professor ressaltaram a importância do jornalismo em um momento de fragilidade do modelo.  Mudanças no setor energético e a crise ambiental também foram abordadas como questões de conjuntura, que precisam do  jornalismo para esclarecimento da população. Lins destacou a necessidade de explicar que o desenvolvimento e lucro a longo prazo passam pela preservação dos ecossistemas. O imediatismo de soluções exigido pela sociedade abre espaço para discursos que promovem soluções simples para problemas complexos. 

– O lugar da boa comunicação e do bom jornalismo sempre vai existir. O jeito como as informações vão ser passadas para frente é que pode mudar, e a nós cabe este discernimento. Uma das nossas funções é olhar o poder, seja ele político, econômico ou de qualquer outro tipo, e questionar, criticar e expor o que consideramos que merece ser exposto. Tem muito a se fazer além da simples denúncia e da constatação da profundidade do abismo. Há brechas para oportunidades de fazer diferente e falar dessas outras formas, junto ao jornalismo, com o intuito de mostrar exemplos e iniciativas interessantes – afirmou o jornalista. 

Marcelo Lins e Arthur Ituassu defenderam o jornalismo bem feito como atividade essencial para desvendar contradições e mostrar caminhos alternativos. Da mesma forma, a transição tecnológica requer adaptação e entendimento de que as novas ferramentas são recursos que podem otimizar processos. Segundo Lins, não é possível substituir o olhar crítico humano, inclusive em redações. Para eles, o repórter deve ter discernimento para distinguir as informações e imagens reais das manipuladas por pessoas ou tecnologia. 

– O jornalismo está em transição, e a universidade também. Nessa era de mudanças, defender a universidade também significa defender o jornalismo, e defender ambos é defender a democracia – reforçou Ituassu.