‘Minha história é a de uma escritora brasileira e mortal’ (Rosiska Darcy de Oliveira)

A acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira teve um encontro acolhedor com os alunos de Jornalismo da PUC-Rio. No dia 28 de agosto, em sala de aula, a escritora falou sobre a sua trajetória como jornalista e como enfrentou os anos de ditadura militar. Ao lado do marido diplomata, a carioca foi morar na Suíça, país onde se refugiou. “A ditadura usava a tortura, “a violência mais cruel”. Na Europa, a maior dificuldade foi ter que se expressar em francês, abandonando a língua natal. “Você tem que renascer com uma história contada em um idioma que não é o seu”, contou. A maior felicidade foi trabalhar muitos anos ao lado do educador Paulo Freire, autor do livro “Pedagogia do Oprimido”.

“Era um gênio reconhecido como tal, ele foi ‘Doutor Honoris Causa’ em 120 universidades.” A volta ao Brasil, em 1984, a levou a dar aula no Departamento de Letras na PUC-Rio. “Foi como tirar os sapatos apertados”, comparou. Rosiska passou a escrever em português e a se aprofundar nas lutas das mulheres que começavam a se estruturar no país. O convite para entrar na Academia Brasileira de Letras caiu como uma luva. “Nunca me arrependi. Mas não somos imortais. Imortal é a nossa obra.” O retorno e a participação na ABL funcionaram como um “simbolismo de retomar à língua brasileira”. Rosiska publicou 13 obras, entre elas livros de crônicas, contos e também ensaios, como “Elogio da diferença”, “Reengenharia do tempo” e o mais recente “Liberdade” sobre este tema tão relevante em sua vida, como “uma fênix que ressurge das cinzas”. Além disso, a defensora do movimento feminista reconhece a importância de ser a oitava mulher eleita imortal em 127 anos de existência da academia.

Rosiska Darcy de Oliveira e Cristina AragãoRosiska Darcy de Oliveira e Cristina Aragão. Crédito: Matheus Santos

Há dois anos, Rosiska e a jornalista Cristina Aragão – mão direita da jornalista e que também participou do encontro com os alunos – se dedicam à edição da Revista Brasileira da ABL. A publicação trimestral teve a primeira edição em 1855 e precisava passar por uma grande reforma gráfica e de conteúdo. O objetivo é expandir e democratizar o acesso a todos os brasileiros, com muitos textos escritos por acadêmicos e também por convidados. Com linguagem leve e acessível, as matérias podem ser lidas on-line ou em versão impressa.

As convidadas com a turma da profa. Rose Esquenazi, da disciplina Laboratório de Jornalismo II.Rose Esquenazi, Rosiska Darcy de Oliveira, Cristina Aragão e alunos de Laboratório de Jornalismo II. Crédito: Matheus Santos

“Falamos sobre as qualidades do país e, ao mesmo tempo, trazemos discussões sobre temas problemáticos da atualidade, como o fenômeno das fake news, inteligência artificial, vida virtual. Rosiska mostrou que houve mudanças na ABL que hoje pode ser considerada “de portas abertas”. Isso foi resultado de uma série de renovações e redefinições de aspectos sobre quem seriam os novos eleitos como imortais, por exemplo. “Mudou a academia, a revista, as ideias, as pessoas, mas continua um princípio: não se esquecer do que foi vivido. O passado existe e o passado construiu muita coisa. É a história do Brasil”, concluiu. O encontro foi organizado pela professora Rose Esquenazi da disciplina Laboratório de Jornalismo II.